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sábado, 10 de março de 2012


Ministério Pastoral Feminino em Perspectiva II

 

Não podemos nos esquecer, entretanto, que o princípio regulador da igreja não é a cultura, mas as Escrituras. Devemos apelar para elas. Em 1 Timóteo 2.11-14, o apóstolo Paulo afirmou aquilo que vem sendo considerado um texto-chave para a compreensão do debate, tanto para os favoráveis quanto aos que se opõem ao ministério feminino:
A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.
Pelo contexto imediato da passagem, os falsos mestres semeavam dissensão e estavam preocupados com trivialidades (1 Tm 1.4-6), enfatizando um certo ceticismo como um meio de adquirir espiritualidade (1Tm 4.1-3). Consciente disso, Paulo aconselhou às jovens viúvas a que se “casem, criem filhos, sejam boas donas de casa” (1 Tm 5.14), funções estas que os falsos mestres tentavam dissuadi-las de praticar.[1]
Quando Paulo diz que “a mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão”, devemos considerar que o contexto era de ensino com a força e autoridade que vem da função presbiteral. O vocábulo grego para “silêncio” é o termo hesychia (pronúncia etacista), o mesmo que foi traduzido por “tranquila” no versículo 2 deste mesmo capítulo. Assim, a preocupação de Paulo não era que elas devessem aprender, mas a maneira como deveriam aprender: “em silêncio” e “com toda a submissão”.
Entretanto, quando o apóstolo diz: “e não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio”, o contexto da proibição é aquele que se refere ao ensino público relacionado ao governo da igreja. De fato, “não permito” significa “é proibido”, e não “não é aconselhável”. Mas alguém poderia indagar: quem Paulo pensava que era para permitir ou não permitir alguma coisa na igreja de Deus? Entretanto, não podemos esquecer que o que Paulo disse à igreja, disse-o na presença de Deus, sob a inspiração do Espírito Santo, e usando um argumento doutrinal, como veremos a seguir. É notável que as duas coisas que fazem diferença entre um presbítero e um diácono é o papel de presidir e ensinar. Exatamente o que foi proibido à mulher em 1 Timóteo 2.12.
Havia espaço para o ensino feminino no cristianismo primitivo, e as Escrituras o demonstram:
(1) mulheres mais velhas ensinando mulheres recém-casadas (Tt 2.3-4);
(2) mulheres ensinando crianças (2Tm 3.14);
(3) mulher, junto ao seu marido, numa situação informal, ensinando a um outro homem (At 18.26);
(4) profetizando, como as filhas de Felipe (At 21.9; 1Co 11.5), mas não no ofício presbiteral.
Notem, portanto, que as Escrituras não vetam a mulher de ocupar alguma função de ensino, desde que ocorra dentro desses enquadres.
Seguindo com os argumentos, nos versículos 13 e 14, Paulo disse: “Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Eis o fundamento teológico de Paulo: assim como o homem veio primeiro na ordem da criação, então deveria dar-se ao homem uma responsabilidade primária no seu relacionamento com a mulher. O seu argumento não veio do aspecto cultural – não dizia respeito apenas àquele contexto –, nem do pecado – que sofreria mudanças decorrentes da obra da redenção. Veio da ordem da criação em Gênesis:
Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? (...) Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu (Gn 3.1, 6).
No Éden, Satanás procurou inverter os papéis estabelecidos pelo Criador junto ao primeiro casal. Ele estava empurrando-a para o lugar de porta-voz do casal. Com isso, Paulo estava dizendo que se as mulheres em Éfeso (cidade onde Timóteo exercia seu ministério) proclamassem sua independência dos homens tanto na família quanto na igreja, recusando-se a aprender “em silêncio, com toda a submissão”, buscando papéis dados aos homens, cairiam no mesmo erro que Eva cometera e trariam desastre semelhante sobre si mesmas e sobre a igreja.
Postado pelo Pastor Paulo César Valle
Blog: http://www.ibfreformada.blogspot.com

[1] Os versículos de 8 a 11 sugerem que os falsos mestres estavam incentivando as mulheres a se destacarem do que poderíamos chamar de tradicionais papéis femininos, em favor de uma abordagem mais igualitária – vestido ostensivo e cabeleira frisada, no mundo antigo, às vezes podia indicar uma mulher de moral fraca e independente do marido.

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